Isto aqui não é a Inglaterra!

Em Inglaterra, como no Brasil, Grécia etc. existe uma mentalidade diferente. Não é necessária grande organização por parte das claque, adopção de nome, colocação de faixas, divulgação, etc porque o público sabe todo as letras das músicas desde pequenos, esse espírito é-lhes incutido pelos avós, não só pelos pais, e o estádio inteiro, canta do princípio ao fim do jogo.

Para terem uma ideia o público em Inglaterra é chamado de "supporters", (suporte anímico) e no Brasil de "torcida", e quem vai à bola são os "torcedores". Ainda há dias vi uma entrevista com o pai de um zuca que jogava em Portugal dizer que a grande diferença entre ir a um estádio em Portugal e no Brasil é que em Portugal vai-se à bola para ver um espectáculo (no caso desportivo), e no Brasil as pessoas vão há bola para torcer.

A mentalidade portuguesa prima pela descrição, e com os bilhetes ao preço que estão hoje em dia o futebol nos estádios já não é para o povo mas diria que para uma classe média-alta. A cultura dominante, como bem sabem, é a do assobio fácil ao primeiro erro da equipa ou mesmo de um jogador. Em Portugal o publico muitas vezes é o maior inimigo da equipa, e muitas vezes jogar em casa torna-se um factor acrescido de dificuldade ao invés de ser uma mais-valia. Ainda se lembram do ano passado?

Os casuais são grupos não organizados de adeptos que se juntam casuisticamente, (para não dizer ocasionalmente) nos jogos, não ostentam qualquer símbolo de grupo, já que este não existe. Não têm faixas, cachecóis ou bandeiras próprias, não fazem qualquer coreografia, nem fumos. Só cantam e vibram com o jogo.

Ou seja, querer que a claque passe a ser de filosofia “Casual” é o mesmo que dizer vamos extinguir a claque e encontramo-nos de vez em quando naquela zona do estádio. Não precisamos de organização, consequentemente não precisamos de financiamento.

Actualmente poucos sabem as letras porque não há divulgação, não há faixas, não há t-shirts, não há megafones. No futuro haverá poucos elementos novos já que não são bem recebidos. Com o avançar da idade dos membros da claque estes irão cada vez menos aos jogos, despesas com os filhos, mulher a querer ir passear, etc. E a o grupo de amigos da bola, não a claque, desaparecerá.
Que eu saiba ninguém aprende sozinho, é necessário alguma fonte de divulgação dos cânticos.

Não é no estádio que se aprendem as letras. Se costumam ir à bola como eu, notam que muitas vezes metade da claque está a cantar uma música e outra metade outra. Sabem também, que quando se entoa um cântico com letra reduzida, há muito barulho, quando são letras mais complexas a intensidade reduz-se drasticamente.

Para quem, como eu gosta de ver o jogo em pé, a gritar pelo clube, do início ao fim do jogo, é necessário pertencer a um grupo organizado de adeptos com os mesmos ideais. É preciso que todos estejam dispostos ao mesmo para se criar um ambiente motivante para cantar 90 minutos e ir para casa sem voz.

É fundamental ter megafones, para cantarmos todos sincronizados, são necessários os símbolos para ser-mos mais unidos. Ainda tenho a minha primeira t-shirt dos NN – Filhos da Capital com uns recortes de jornal.

Fazem falta os megafones, fazem falta os bombos e as faixas, os blogues e os sites.